L&PM: Quais são as dúvidas mais antigas e,
ao mesmo tempo atuais, sobre a língua portuguesa?
CEGALLA: Um dos
erros mais frequentes no uso da língua portuguesa no Brasil é o emprego do
pronome pessoal lhe em vez de o (ou a) para
complementar verbos transitivos diretos. Assim é que se ouve ou se lê
frequentemente: eu lhe vi entrar em casa. / Deus lhe abençoe.
/ Presentearam-lhe com um colar de pérolas. / A grandiosidade do
cenário lhes impressionou vivamente.
O uso impróprio do
pronome lhe e do verbo haver, por parte do poeta Fagundes
Varela, foi o estopim que deflagrou a célebre polêmica entre o romancista
português Camilo Castelo Branco e o escritor brasileiro Carlos de Laet, em
meados do século 19, o século das polêmicas.
No século 20, começaram
as freiadas (opa! freadas, sem o i), hoje mais freqüentes e mais
bruscas do que nunca, devido ao impressionante aumento de carros nas ruas e nas
estradas. E o governo, em vez de freiar (epa! frear, sem i), a onda veicular, a incentiva e
aplaude.
Omitir a preposição antes do pronome
relativo que, quando o verbo a exige, revela um conhecimento medíocre
da língua portuguesa.
São antigas e freqüentes construções
como estas:
Esta é a situação
dramática que chegamos.
São tantas as coisas que dependemos!
O que não se pode prescindir numa casa é
de amor e paz.
É nobre o ideal que vocês lutam.
Como atestam as construções que
seguem:
Os dois irmãos parecem que não se
entendem.
São fatos esses que não adiantam escamotear.
No temporal de ontem caiu árvores e postes.
Trata-se de problemas que
não cabem a mim
solucionar.
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